domingo, 9 de dezembro de 2012

INTEIRA PAISAGEM


Inteira paisagem
(Carlos Pedala)

Tudo que não é em mim
é paisagem
é o tal do mundo
realidade e linguagem

cores, céus azuis, nuvens
pétalas, amores
espinhos, rosas e flores

palavras, sementes, mensagens
são essas assim
como tudo o que não há em mim

assim é espelho
verdade, verdadeiramente verdadeira
repartida, e inteira...

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

BANDEIRA


Bandeira
(Carlos Pedala)

Por exercício, farei um poema
ideológico, feito bandeira
para pendurar em um mastro
e mostrar para o mundo
o que penso, o que acho

espero que nele haja poesia
e sob sua sombra se derrame
o lastro
sendo seu ideal um signo
de rimas e métricas como significado

que o poeta encontre
(sem falsa modéstia)
o pouso que precise
para decolar em voos mais altos
e cera para untas as asas

domingo, 2 de dezembro de 2012

INTERVALO


Intervalo
(Carlos Pedala)

Na madrugada, os barulhos disparam
pela janela, são máquinas insones
Deslizando no asfalto. Intensas
Não dormem, impedindo que eu adormeça

Leio sonhos de outros sonhos
E escrevo versos em que desfaço
Esconder a poesia que não encontro

O tempo é quente
Mas sei do seu não existir
Enquanto um ente

Já os carros não param
É um aparente desespero
Na dúvida, moro e agradeço
Esse breve silêncio
Onde adormeço 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

OS OBJETOS


Os objetos
(Carlos Pedala)

Os objetos
E os sujeitos
Entre eles
O vão suspeito

Os objetos
Cercam-nos
Sufocam-nos
E por eles nos matam

Os objetos
Em todos os lados
Opacos
Sem intenções concretas

Os objetos
Do outro lado
De nós, sujeitos

Entre você e eu
Os objetos
Opacos
Em si

terça-feira, 20 de novembro de 2012

CORRENTEZA




Correnteza
(Carlos Pedala) Para Beatriz Milhazes

Esparramo notas
Sobre a tela branca
Os dedos tocam nuvens
e teclas macias, suaves
Aceitam
dispondo as lado a lado
Feito as cores de Beatriz Milhazes
No quadro

E como uma mulher no cio, se deitam
Em uma sintonia perfeita
Vão dizendo letra por letra
Desfilando vocábulos e conceitos

Construindo os versos,
Os tempos verbais de modos escorreitos
Navegamos a correnteza do rio
De matizes bonitas
E Palavras
Não Ditas. 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

DEPRESSÃO


Depressão
(Carlos Pedala)

Ficou deprimida
Foi ver um três quarto no Flamengo
Perto de tudo
Mas é menor um pouco do que o que mora atualmente
Pensou em voltar a trabalhar
Ele só estuda, quer ser juíza

Não que tenha sido feliz algum dia
Não é isso
Mas gosta de sentir-se livre dentro do apto
Gosta de ver a paisagem

Ela se dedica bastante
Por conta disso
Não pode falar com o marido
Não pode falar com os filhos
Aliás, não gosta de beijar na boca
Não sente vontade de fazer amor
Nem gosta de carinhos ou abraços 

REENCONTRO


Reencontro
(Carlos Pedala)

Hoje, fui visitar parentes em Jacarepaguá
Peguei o 343 no Centro (não tenho carro)
Na Rua da Carioca
Em frente ao bar Luiz
Tive medo de ser assaltado

O trajeto passa pela Avenida Brasil
e Linha Amarela
Um antigo conhecido, que não via há cerca
de vinte anos, entrou no coletivo
Ele sentou-se ao meu lado e conversamos

Trabalha de vigia ou porteiro
Ganha por volta de oitocentos reais
Tem quatro filhos
Parou de estudar no primeiro ano do segundo grau
Gosta de fazer compras pela Internet
Desejou-me sorte, desceu do ônibus e sumiu...